Plano para atrair marcas internacionais deixa PME reticentes

 set25

O Governo acaba de lançar um plano para atrair as maiores marcas internacionais e regionais a abrirem a sua primeira loja em Macau, com apoios até um milhão de patacas. Projeta-se mais emprego e notoriedade na região, sobretudo se houver aposta nas empresas lusófonas, destaca Matthew Liu, membro do Conselho de Desenvolvimento Económico. Lei Cheok Kuan, presidente da Associação Comercial das Zonas Central e Sul, alerta que PME poderão não beneficiar. “As marcas globais instalam-se por estratégia, não por subsídios. Já as PME locais nem sempre têm meios para acompanhar ou cooperar com estas empresas”

O Governo apresentou esta semana o Plano de Apoio ao Estabelecimento da Primeira Loja, com o objetivo de dinamizar a economia local e aumentar a sua atratividade junto de investidores estrangeiros e nacionais e que prevê incentivos financeiros até um milhão de patacas para marcas internacionais e regionais que abram o seu primeiro espaço na cidade, com base em critérios como a localização (por exemplo, Zona de Aterros do Porto Exterior).

As marcas internacionais terão de constar entre as 100 ou 500 maiores do mundo, ou demonstrar mais de 10 anos de experiência no setor com presença de mercado significativa. As marcas oriundas da China continental, Hong Kong e Taiwan deverão ter pelo menos cinco anos de atividade e contar com cinco lojas em grandes cidades. Já as marcas de países lusófonos ou hispânicos poderão candidatar-se mediante recomendação de câmaras de comércio locais.

Segundo o presidente substituto do IPIM, Sam Lei, a meta é atrair mais de 20 marcas elegíveis, reforçando a competitividade do mercado local e dinamizando o desenvolvimento económico comunitário. O apoio destina-se a marcas internacionais, do Interior da China, de Hong Kong e de Taiwan, desde que cumpram critérios como tempo mínimo de funcionamento, reconhecimento em rankings internacionais e número de lojas em diferentes mercados. A medida, de acordo com o Governo, insere-se na estratégia mais ampla de diversificação económica, procurando fortalecer a ligação entre o mercado local e marcas internacionais de referência.

A intenção é positiva, mas não garante que esses gigantes estejam interessados em abrir em zonas como o ZAPE, Areia Preta, San Kio ou Iao Hon (…) as marcas globais instalam-se por estratégia, não por subsídios. Já as PME locais nem sempre têm meios para acompanhar ou cooperar com estas empresas

Lei Cheok Kuan, presidente da Associação Comercial das Zonas Central e Sul

No entanto, Lei Cheok Kuan, presidente da Associação Comercial das Zonas Central e Sul, encara com prudência o plano governamental de apoio à instalação das primeiras lojas em Macau, reconhecendo que a iniciativa tem mérito ao promover a diversificação económica, mas questiona se os resultados chegarão efetivamente às pequenas e médias empresas.

A intenção é positiva, mas não garante que esses gigantes estejam interessados em abrir em zonas como o ZAPE, Areia Preta, San Kio ou Iao Hon”, afirma ao PLATAFORMA. Para Lei, os subsídios adicionais de algumas centenas de milhares de patacas dificilmente são um fator decisivo. “As marcas globais instalam-se por estratégia, não por subsídios. Já as PME locais nem sempre têm meios para acompanhar ou cooperar com estas empresas”, explica.

Face a este cenário, Lei sugere que o Governo avance com apoios mais abrangentes e estruturados, ajudando as PME a reposicionarem-se e a integrarem-se no processo de instalação das novas marcas. “Só assim será possível transformar a política num benefício duradouro para toda a comunidade”, afirma.

Consumidores de “alto valor”

O professor de Marketing da Universidade de Macau e membro do Conselho de Desenvolvimento Económico, Matthew Liu, considera que a chegada de novas marcas pode atrair consumidores de elevado poder de compra: “Estes visitantes procuram experiências inéditas e estão dispostos a viajar de propósito para conhecer uma primeira loja, tal como antes vinham para jogar”, sublinha.

Com o desfalque do segmento VIP no Jogo, o poder de consumo dos turistas já não é o de outros tempos, sendo essencial procurar novos públicos de alto valor, explica Liu. Para o académico, os consumidores movidos pela novidade das primeiras lojas estão dispostos a gastar e podem tornar-se um motor da vitalidade económica. A curto prazo, acredita que “a chegada de primeiras lojas poderá desencadear forte atenção dos média e da sociedade, criando em Macau uma tendência comparável à popularidade que tiveram os grandes concertos no passado”. Contudo, avisa que a eficácia a longo prazo dependerá de uma política contínua e estável”.

Se uma marca internacional não tiver presença em Guangdong, a sua primeira loja em Macau pode atrair consumidores da Grande Baía

Matthew Liu, professor de Marketing da Universidade de Macau

Perante receios de que marcas oriundas da China continental possam não trazer suficiente novidade, Liu defende que o plano é global e que Macau detém uma posição única na região. “Se uma marca internacional não tiver presença em Guangdong, a sua primeira loja em Macau pode atrair consumidores da Grande Baía”, explica ao PLATAFORMA. Liu acrescenta que o programa dá especial incentivo a marcas de Países de Língua Portuguesa e espanhola, reforçando Macau como plataforma entre a China e o mundo lusófono, e sublinha que a aposta em marcas estrangeiras diversifica a oferta turística e está alinhada com a política chinesa de promoção da chamada ‘economia da estreia’.

Plano deve ser duradouro

O futuro da iniciativa depende da sua continuidade. “A política deve ser como uma chama perene num templo, não uma faísca passageira”, defende Liu. Para o académico, só a manutenção constante do programa permitirá gerar um efeito de ‘boca-a-boca’, consolidar a atração de primeiras lojas e revitalizar os bairros tradicionais, ao mesmo tempo que se promove a restauração e o comércio de proximidade.

Adverte, porém, que os subsídios não bastam. É preciso melhorar a experiência urbana e turística, desde a renovação do espaço público nos bairros até à sinalização que facilite os acessos, passando por uma estratégia de marketing territorial que mostre Macau como um destino de consumo moderno e variado, para lá do Jogo.

Quanto às eventuais desvantagens para as PME, Liu considera que a questão deve ser vista como uma oportunidade. “Os pequenos negócios sofrem sobretudo com a falta de clientes. Marcas de renome podem funcionar como âncoras e atrair consumo para os arredores”, sublinhando ainda que as marcas com maior notoriedade criam emprego qualificado, assegurando também a proteção dos trabalhadores locais.

O académico destacou o caso da Pop Mart, instalada em Macau antes de se tornar uma marca de culto a nível global, como exemplo de aposta bem-sucedida. E conclui que, se Macau continuar a captar marcas internacionais com potencial, não só reforçará a sua vocação de plataforma entre a China e os países lusófonos, como também ganhará uma nova imagem turística, menos dependente do Jogo.

https://www.plataformamedia.com/2025/09/25/plano-para-atrair-marcas-internacionais-deixa-pme-reticentes/

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